Combatendo o Alzheimer

Por Blog do Luis Nassif

 

Nova esperança para combater o Alzheimer
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Paloma Oliveto
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Com 5,1 milhões de americanos sofrendo do mal de Alzheimer, é dos Estados Unidos que têm saído as pesquisas mais promissoras em relação a essa doença neurodegenerativa, sem cura e cujo tratamento, até agora, só se concentra nos sintomas. Três artigos publicados na semana passada animaram a comunidade científica – que, apesar de destacar a importância dos resultados, alerta sobre a necessidade de mais estudos antes de se desenvolver uma terapia que consiga frear ou mesmo reverter os estragos feitos no cérebro. Ainda assim, as conclusões das pesquisas foram consideradas animadoras.
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Uma delas, publicada na revista especializada Science, tem como vantagem o fato de os cientistas descobrirem a eficácia de um medicamento já aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), órgão de vigilância sanitária dos EUA, no tratamento da doença. Os pesquisadores da Faculdade de Medicina de Case Western, em Cleveland, constataram que a substância bexaroteno, presente em remédios anticancerígenos, conseguiu recuperar funções cerebrais em ratos que foram manipulados geneticamente para desenvolver o Alzheimer.
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Em laboratório, os cientistas perceberam que as placas beta-amiloides, que se acumulam entre os neurônios e começam a destruir as células, foram afetadas diretamente pelo bexaroteno, substância que existe no mercado há 13 anos e é usada para o tratamento de um tipo de linfoma T. Ao receberem dosagens do remédio, os ratos reagiram e até 75% das placas foram eliminadas. Segundo a pesquisa, foi possível, inclusive, reverter os sintomas, entre eles o mais drástico: a perda de memória.
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Gary Landreth, principal autor do estudo, conta que decidiu usar esse medicamento porque a droga age em células localizadas no núcleo do cérebro, que induzem um processo bioquímico que afeta a produção de beta-amiloide. A equipe, então, administrou uma única dose nos ratos e, em seis horas, 25% das placas haviam desaparecido, um efeito que durou três dias. Nesse período, os animais recuperaram as funções cognitivas afetadas pelo Alzheimer. Uma das provas é que começaram a dobrar pedaços de papel higiênico para construir seus ninhos, algo que eram incapazes de fazer quando tinham uma concentração alta do peptídeo no cérebro.
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Rapidez Para verificar o efeito do medicamento a longo prazo, os cientistas continuaram a injetar o bexaroteno e observar como os ratos responderiam. Em duas semanas, 75% das placas beta-amiloide haviam sumido. “Em modelos animais, nunca havíamos observado uma limpeza tão rápida das placas beta-amiloides. Conseguimos reverter com muito sucesso todas as características patológicas e comportamentais típicas de roedores manipulados para desenvolver o Alzheimer”, comemora Landreth. “Acredito que essa pesquisa é extremamente promissora. Pelo menos no que diz respeito aos animais, provamos que a droga afeta diretamente a produção das placas.”
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Além da memória, os ratinhos recuperaram o olfato, cuja perda é o principal sinal de Alzheimer em humanos. “É um avanço sem precedentes. Até agora, o melhor tratamento existente demorava vários meses para eliminar as placas amiloides do cérebro de ratos. Nosso próximo passo é verificar se o bexaroteno tem o mesmo efeito em seres humanos. Estamos dando os passos iniciais para transformar essa descoberta em um tratamento e esperamos obter resultados de um teste clínico até o ano que vem”, disse à agência France Presse Daniel Wesson, professor adjunto de neurociência e segundo autor do estudo.
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O bexaroteno não age diretamente na limpeza das placas. Em vez disso, ele ativa receptores retinoides nas células cerebrais que produzem um complexo proteico chamado apolipoproteína E, que transporta o colesterol até o sistema nervoso central. Alterações genéticas nessa proteína estão associadas ao risco de desenvolver Alzheimer. O problema é que essa substância tem efeitos colaterais, como aumento das taxas de colesterol e triglicerídeos, disfunções que aumentam a probabilidade de se ter doenças cardiovasculares e diabetes. “Uma forma de lidar com isso seria administrar dosagens mais baixas. Não acho que os possíveis efeitos colaterais coloquem essa excelente pesquisa em ameaça. O resultado da pesquisa é que a droga diminiuiu significativamente os depósitos de placas beta-amiloides, e acredito que, em humanos, os testes serão promissores”, opina David Holtzman, pesquisador de Alzheimer da Universidade de Washington, câmpus de Saint Louis.
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Mais descobertas Além da pesquisa publicada na Science, dois artigos independentes divulgados na semana passada chamaram a atenção da comunidade médica por conseguirem desvendar mais mecanismos por trás da doença, o primeiro passo para o desenvolvimento de uma terapia-alvo. Bradley T. Hyman, do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, e Karen Duff, da Universidade de Columbia, descobriram que uma proteína associada à doença, chamada tau, se espalha pelo cérebro como se fosse um vírus, saltando de um neurônio para o outro. Diferentemente das placas amiloides, a tau, quando alterada, danifica o cérebro, provocando emaranhados neurofibrilares.
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Estudos em cadáveres e exames por imagem no cérebro de pacientes com Alzheimer sugerem que a doença, principalmente no que se refere à patologia neurofibrilar, começa no córtex entorrinal, região que desempenha um papel importante na memória. À medida que o Alzheimer progride, os emaranhados vão se distribuindo por outras regiões cerebrais, uma pista do padrão de disseminação do mal. Para confirmar esse fato, o Instituto Taub de Pesquisa sobre Alzheimer e Envelhecimento Cerebral da Universidade de Columbia manipulou ratos de forma que o gene da proteína tau tivesse uma maior expressão no córtex entorrinal. Os cérebros dos animais foram analisados durante 22 meses, possibilitando aos cientistas fazer um mapa do desenvolvimento do Alzheimer.
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Os pesquisadores descobriram que à medida que os ratos envelheciam a proteína alterada se espalhava seguindo um rota específica, do córtex entorrinal até o hipocampo. “Esse padrão é muito semelhante ao que vemos nos primeiros estágios de Alzheimer humano”, comentou Karen Duff no site da Universidade de Columbia. “Se, como nossos dados sugerem, a patologia começa no córtex entorrinal e emana de lá, a abordagem mais efetiva para tratar o Alzheimer talvez seja semelhante à forma como lidamos com o câncer, por meio da detecção precoce e do tratamento localizado, de forma a evitar a progressão”, acredita Bradley T. Hyman, principal autor da pesquisa realizada pelo Hospital Geral de Massachusetts.
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‘Vovô está caducando’, ‘Vovó, coitada, está senil’… Muitos já passaram por tais percalços, envolvendo esses e/ou outros parentes ou conhecidos. Hoje, porém, os tempos são outros, e fortuitamente somos surpreendidos com notícias sobre lampejos de senilidade (pra não dizer apagão) em pessoas de meia idade, que deveriam estar em plena forma. Assaltados pelo sentimento de impotência, limitamo-nos a acompanhar – e lamentar – a via crucis. Eis aí a dura realidade… que justifica toda a torcida no sentido de que as pesquisas visando à cura do Mal de Alzheimer alcancem êxito.