Renúncia favorece organização da Copa, dizem congressistas

Da BBC Brasil em Brasília

 

Ricardo Teixeira. APTeixeira ficou 23 anos à frente da CBF; dirigente renuncia em meio a denúncias de irregularidades

 

O anúncio de que Ricardo Teixeira abandonou a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 favorece a organização do Mundial no Brasil, segundo congressistas ouvidos pela BBC Brasil.

Nesta segunda-feira, quatro dias após se licenciar da presidência da CBF citando problemas de saúde, Teixeira comunicou que deixará o cargo em definitivo, bem como a chefia do COL. O ex-governador de São Paulo e vice-presidente da CBF, José Maria Marín, assumiu os dois postos.

Para o deputado José Rocha (PR-BA), membro da bancada da bola (grupo informal de congressistas tradicionalmente aliados à CBF), a renúncia de Teixeira vai desobstruir os canais de negociação entre a CBF, o governo, o Congresso e a Fifa (federação que rege o futebol mundial). Segundo ele, a relação da CBF com as três instituições estava desgastada, o que vinha prejudicando a organização da Copa.

Rocha afirmou que o sucessor de Teixeira na CBF e no COL, José Maria Marín, tem todas as credenciais para ocupar os postos, por já ter sido governador de São Paulo (entre 1982 e 1983) e presidente da Federação Paulista de Futebol (entre 1982 e 1988).

“Usando toda a sua experiência, tendo boa interlocução com o governo, a Fifa e o Congresso, ele vai ser bom organizador do evento. Mas temos todos que estar unidos em torno dele”, disse à BBC Brasil.

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), Teixeira demorou para renunciar. “É uma uma vergonha, mais do que vitória, levar tanto tempo para afastar alguém tão desmoralizado”, afirmou Dias, que em 2001 presidiu a CPI do Futebol.

Segundo o senador, desde a CPI, foram reveladas irregularidades na gestão do futebol nacional, mas providências nunca foram tomadas “em razão da cumplicidade de muitos, que foram envolvidos pela força do poder econômico e político que a CBF exerce em autoridades do Legislativo, Executivo e Judiciário.”

Com a substituição na chefia da CBF, diz ele, “talvez não mude muito, porque processo sucessório pode significar troca de seis por meia dúzia”. Ele defende que o governo influencie a escolha do sucessor de Teixeira no órgão, uma vez que a CBF é a principal parceira da administração federal na organização da Copa.

‘Propinas’

O jornalista da BBC Andrew Jennings, autor de reportagem que denunciou uma rede corrupção na Fifa, concorda que levou muito tempo para Teixeira deixar o posto.

A reportagem, veiculada no programa de TV Panorama em 2010, afirmou que a Fifa estava impedindo a divulgação de um documento que revelaria a identidade de dois dirigentes da Fifa forçados a devolver dinheiro de propinas em acordo para encerrar uma investigação criminal na Suíça, em 2010. Segundo o programa, um dos dirigentes era Teixeira e o outro, seu sogro e ex-presidente da Fifa, João Havelange.

“Ele foi um desastre para o futebol nacional, espero que agora as coisas melhorem”, disse Jennings.

Ele afirma, porém, que os aliados de Teixeira também precisam deixar seus postos na CBF e no COL. “Não podem tirar a Copa do Brasil, por causa dos contratos comerciais assinados. Vocês no Brasil têm talento o suficiente para organizar a Copa do Mundo sem a turma do Teixeira.”

Comemoração

Em sua página no Facebook, o ex-jogador e atual deputado Romário (PSB-RJ) também comemorou a renúncia de Teixeira em sua página no Facebook: “Exterminamos um câncer do futebol brasileiro.”

Ele disse esperar que o novo presidente da CBF dê uma nova cara ao futebol nacional, mas afirmou achar isso “muito difícil e quase impossível”.

“Não só acredito, mas também espero, que uma limpeza geral deve ser feita na CBF. Só então, definitivamente, poderemos ficar tranquilos de que a mudança acontecerá em todos os sentidos.”

Em nota sobre a renúncia de Teixeira, o Ministério do Esporte afirmou que continuará “cooperando com a entidade responsável pela organização do Mundial”. “Seguiremos trabalhando em harmonia para o êxito das tarefas comuns necessárias ao sucesso do evento”.

PSDB desmonta a TV Cultura

Por Altamiro Borges, Blog do Miro
“Na semana passada, a TV Cultura anunciou a demissão de mais 50 funcionários e novos cortes na sua grade de programação. Com isso, a gestão desastrosa de João Sayad promove o maior desmonte da história da emissora, que já foi uma das mais importantes tevês educativas do país. Ao mesmo tempo, os tucanos impõem uma linha totalmente partidarizada à TV Cultura, inclusive cedendo espaços “nobres” para veículos de direita – como Folha e Veja – na sua programação.

Entre os programas que sofrerão “reformulações”, segundo a direção da emissora, estão dois de reconhecida qualidade. No caso do “Metropólis”, o apresentador Cadão Volpato e o diretor Ernesto Hypólito já foram dispensados. Já o programa  “Grandes Momentos do Esporte“, com 28 anos de existência e uma das melhores marcas de audiência da emissora, será transformado num quadro do esportivo “Cartão Verde”. Um dos seus editores, Vicente Lomonaco, também foi demitido.

Partidarização da emissora

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) criticou os novos cortes na emissora. Para José Augusto Camargo (Guto), presidente da entidade, “a notícia causou estranheza. Demitir funcionários com a justificativa de que não estão em função adequada enquanto novos programas de televisão são lançados parece não ter lógica. É inadmissível que estas demissões ocorram no mesmo momento em que várias frentes de trabalho são abertas”.

A estranheza decorre do fato da TV Cultura ter negociado recentemente a “parceria” com as empresas privadas de comunicação Abril e Folha da Manhã – que editam a Veja e a Folha. Nem os membros do Conselho Curador da emissora conheciam esta negociata. O acordo só se tornou público graças às denúncias da blogosfera e das redes sociais. Os tucanos demitem e desmontam a emissora pública e, ao mesmo tempo, presenteiam veículos privados – reconhecidamente de direita. É um absurdo, um crime!”

MST ocupa agências do Banco do Brasil para cobrar crédito rural

Por Blog do Nikoska

 

Via G1 PR

Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) no Paraná, Santa Catarina e Alagoas iniciaram nesta terça-feira (3) ocupações em agências do Banco do Brasil para cobrar crédito agrícola e recursos para melhoria dos assentamentos e acampamentos. O movimento deve se estender até a quarta-feira (15).

Para este dia, está prevista uma mobilização na superintendência do banco em Curitiba. O escritório do MST no Paraná confirmou que estão previstas mobilizações em 15 cidades nesta semana. Em pelo menos dois municípios – Manoel Ribas, no Norte, e Lapa, na Região Metropolitana – foram registradas ocupações.

Conforme a Polícia Militar das respectivas cidades, perto de 100 militantes ocuparam a frente da agência do Banco do Brasil em Manoel Ribas durante todo o dia de ontem. Outras 15 pessoas ficaram duas horas em frente ao banco na Lapa. Conforme a polícia, os movimentos foram pacíficos.

O escritório nacional do MST confirmou uma mobilização, envolvendo 70 trabalhadores, na agência de Abelardo Luz, em Santa Catarina, e um protesto, com 300 militantes, em frente aos bancos do Brasil e do Nordeste, em Maceió, em Alagoas. Em Abelardo Luz, além da pauta nacional de reivindicações, os integrantes do MST cobraram linhas de crédito especiais aos trabalhadores rurais dos 97 municípios atingidos pela estiagem.

Conforme a assessoria de imprensa do MST, a mobilização visa a renegociação de dívidas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), infra-estrutura nos assentamentos para o escoamento da produção, um programa para a construção de agroindústrias e assistência técnica para as famílias assentadas e a construção de um crédito diferenciado para a agricultura familiar e a reforma agrária. No Paraná, há 24 mil assentados e 6 mil acampados.

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil informou que dos R$ 26,4 bilhões contratados em crédito rural na safra 2011/2012, R$ 5,5 bilhões, ou seja, 20,8%, foram destinados à agricultura familiar.

Tatu-bola será o novo mascote da copa de 2014

Por Núcleo de Notícias

 

Mascote foi sugerida por ONG cearense. (Foto:divulgação)

O animal, que está quase extinção, foi escolhido pela FIFA para representar o Brasil na próxima copa que será realizada em 2014. O anúncio oficial, contudo, será feito pelo Comitê Organizador Local brasileiro (COL) somente em outubro deste ano.
Os desenhos e um vídeo com a mascote em movimento já foram produzidos por uma agência de publicidade contratada pela FIFA. O verde será a cor predominante do tatu-bola, que lembra muito uma bola de futebol. O tatu-bola venceu outros animais concorrentes que estavam na disputa, como a onça, o jacaré e a arara.
Apesar de a escolha já ter sido feita, a FIFA ainda precisa registrar o desenho do tatu-bola no OHMI, instituição que trata de patentes na Europa. A FIFA e outras marcas internacionais costuma registrar logos oficiais e desenhos na organização.
Durante a Copa de 2010, o logo da Copa de 2014 vazou pelo site da OHMI. Mais recentemente, o mesmo aconteceu com a marca da Copa das Confederações de 2013. A tendência é que o mesmo ocorra com a mascote do Mundial. No dia 2 deste mês a colunista Mônica Bergamo publicou no jornal Folha de S.Paulo que o tatu-bola era o favorito do COL para ser escolhido como mascote.
Ontem, o jornalista Lauro Jardim, da revista Veja, afirmou que o animal acabou sendo realmente o eleito e que será batizado em votação realizada com os torcedores brasileiros.
A ideia de ter o tatu-bola como mascote de 2014 foi dada pela Associação Caatinga, uma ONG cearense dedicada à preservação ambiental. O grupo criou páginas na Internet divulgando a campanha e em fevereiro entregou o material ao Ministério do Esporte.

Dilma: ‘vamos defender a indústria brasileira’

Em entrevista concedida ao jornalista Luis Nassif, a presidenta Dilma Rousseff diz que a preocupação número um do governo, daqui para diante, será com o tsunami monetário e os riscos que traz para a indústria brasileira. “As condições do mercado mudaram”, avisa. “Se perguntar hoje qual é o maior cuidado do governo, respondo: é acompanhar como o Brasil se defende dessas políticas que são abertamente protecionistas praticadas pelos governos desenvolvidos”.

Luis Nassif

(*) Publicada originalmente no Blog de Luis Nassif

Quem imaginava uma presidente emocionalmente abalada, depois de chorar em público pela saída de um assessor, pode desistir. A Dilma Rousseff que entrou no salão do Palácio Alvorada para tomar café vinha lépida, feliz, rejuvenescida e entusiasmada pela visita a Hannover, Alemanha, para participar da Feira de Tecnologia.

Lá, conferiu os stands alemães, quase todos apenas com filiais de empresas coreanas.

Depois, os brasileiros, com sistemas criativos, inovadores. “Todo mundo tinha coisa bem legalzinha”, conta a mineira Dilma, Entusiasmou-se com o sistema de controle de voo da Embraer, com a apresentação de Marcos Stefanini, de uma empresa brasileira de TI, que mostrou o grande diferencial brasileiro: jeitinho, criatividade.

Foram 90 minutos de entrevista, interrompida por um telefonema de Lula que mostrou ter recuperado a voz.

A seguir, os trechos principais da entrevista. Nela, diz que a preocupação número um do governo, daqui para diante, será com o tsunami monetário e os riscos que traz para a indústria brasileira. “As condições do mercado mudaram”, avisa ela. E analisa também as marolas em torno da suposta crise da base política.

Como os países ricos estão tratando a crise

É importante analisar como os países ricos tratam a crise.

Comecemos pelos Estados Unidos. O governo Barack Obama assumiu que queria política de crescimento imediato e correção de rumos fiscais no médio prazo. O problema foi a derrota no Congresso que o obrigou a optar pelo “quantitative easing” (programa de expansão monetária). Empurraram a crise com a barriga, aumentaram a quantidade de dinheiro nos bancos, mas não rolaram as dívidas das famílias, o que poderia ter destravado o mercado interno. Só agora nas eleições, depois de quatro anos de crise, começam a rolar as dividas das famílias.

O “quantatitve easing” é um mix de política macro, com taxas de juros lá embaixo, expansão monetária acelerada e segurar o lado fiscal. É evidente que por trás dela há a intenção de desvalorizar o dólar e melhorar o emprego interno.

O governo Obama foi levado a isso politicamente.

No caso da Europa, não: optaram por isso. O último relatório do BIS (o banco central dos bancos centrais) mostra que a estratégia visa dois objetivos principais: impede a crise bancária e ganha tempo para dois mecanismos: desvalorizar o euro e jogar a conta sobre países emergentes que têm câmbio flutuante. Mas, por outro lado, pode estar criando uma enorme bolha monetária.

Não há unanimidade no governo alemão com respeito ao tamanho da liquidez. Para eles foi importante para evitar um Lehman Brothers alemão, mas só isso. Não existe unanimidade na Alemanha sem sobre isso nem em relação à Grécia.

Por trás da expansão da bolhas, há um medo da inflação, pelo histórico alemão com a hiperinflação. Medo que nós compartilhamos.

A arbitragem com países de câmbio flutuante

No filme “Muito Grande para Falir”, na cena final o Secretário do Tesouro Paulson pergunta a Ben Bernanke se estava satisfeito com o fato dos grandes bancos terem absorvido os empréstimos para rolar dívidas. Bernanke, quieto, responde: não tenho certeza se eles vão emprestar. De fato, não emprestaram: uma parte ficou depositada no próprio FED, outra parte foi devolvida.

No caso da Europa, são um trilhão de euros emprestados a 1% ao ano, que em breve entrarão na ciranda financeira. Irão investir em títulos da Itália e Espanha, aumentando sua exposição? Não: virão fazer arbitragem aqui e em outros países. Tem uma enorme bolha a caminho.

O problema é que essa desvalorização cambial artificial é a forma de protecionismo mais feroz que se tem. Há um discurso dos países centrais, de que são defensores do livre comércio. Mas praticam o protecionismo mais feroz que se tem. E essa desvalorização artificial da moeda não está regulada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Então não venham reclamar de algumas medidas absolutamente defensivas que o Brasil toma.

Hoje em dia, via tsunami monetária, está em curso no mundo a prática das desvalorizações competitivas, o que se chama de “empobreça seu vizinho”.

É uma situação esquizofrênica na Europa, que não consegue uma solução de crescimento.

Muitos países estão com graus de desemprego do ponto de vista política incompatível com sistemas democráticos abertos. A dívida grega não é financiável, assim como a de Portugal. Como conviver com nível de desemprego que chega a atingir 45% dos jovens? Destrói o tecido social, tira das pessoas a esperança.

A estratégia brasileira

No Brasil, vamos ter que perceber duas coisas:

Primeiro, as condições do mercado internacional mudaram. Estamos vivendo situação diferenciada. Não se pode perder a consciência do tsunami monetário. Tem que fazer avaliação sobre as estratégias a serem tomadas, e não se faz de forma abrupta e apaixonada. Com muita cautela, frieza, tranquilidade, iremos acompanhar o desenrolar da situação e tomar as medidas cabíveis.

Não tenho como adiantar as medidas cabíveis, mas para o governo brasileiro esta é a questão principal.

Se perguntar hoje qual é o maior cuidado do governo, respondo: é acompanhar como o Brasil se defende dessas políticas que são abertamente protecionistas praticadas pelos governos desenvolvidos.

A necessidade do investimento no Brasil

A própria China está promovendo uma transição do modelo de exportações para o mercado interno. Não vão parar de importar, mas irão se situar de forma diferente no mundo.

Por todas as manifestações que lemos: acho que os chineses se sentiram muito fragilizados diante da crise dos seus maiores mercados. Não podem mais confiar só no mercado externo.

Wen Jiabao disse que o modelo era desequilibrado, insustentável (usa quatro adjetivos): eminentemente desequilibrado: levará a impasses que terão que ser resolvidos.

A China caiu na armadilha do sobre investimento elevado, o que cria rigidez econômica muito forte. Agora, tentam fazer a versão.

No Brasil, anda estamos na fase de acelerar investimento. Em breve pretendo fazer uma reunião pessoal com os maiores empresários do país sobre a questão do investimento, Uma parte da decisão depende da expectativa, do que Delfim gosta de chamar de “espírito animal”. O Brasil oferece todas as condições.

Em todos os lugares que vamos são as mesmas avaliações dos empresários internacionais. No último dia na Alemanha tivermos reunião com Angela Merkel na ABDI (o equivalente à nossa Confederação Nacional da Indústria).

A reunião foi para que nos falassem como pretender investir no Brasil. Havia uma porção de setores, quase uma rodada de negócios. E todos eles vinham, diziam que tinham empresa tal, na área tal, e todo interesse em investir no Brasil. Hoje em dia a maior parte da população alemã é de aposentados e crianças. E o Brasil tem o bônus demográfico. Eles olham para isso, para nosso mercado, para a estabilidade macroeconômica e política, para nossa tradição de respeitar contratos.

Revertendo a queda na indústria

Aqui não temos dúvida de que a economia mundial caminha para recessão com excesso de liquidez. A China reduzirá crescimento para 7,5% com a clara intenção de reverter o modelo para dentro. Outros grandes países vão perseguir esse fortalecimento do mercado interno, com, a possível exceção da Índia, que tem um déficit externo muito complicado.

Temos que ter consciência disso.

A situação atual não é a mesma de 2011. Nós tínhamos absorvido a expansão monetária dos Estados Unidos que de uma forma ou outra foi encaixada. Agora é absolutamente diferente, é recessão com uma gigantesca expansão monetária acumulada e uma tendência a uma volta aos mercados domésticos.

Vamos ter uma política clara em relação ao Brasil, da qual o melhor exemplo é a revisão do acordo automotivo com o México. Foi feito em 2002, em outra conjuntura, na qual cabia o acordo. E está em vigor até agora, em condições não adequadas ao Brasil.

O Brasil vai institucionalmente tomar medidas para garantir que nosso mercado interno não seja canibalizado. Tem queda na indústria, mas dá para reverter. Não daria se deixássemos continuar por dois, três anos. Agora dá e vamos fazer o possível e o impossível para defender a indústria nacional.

O papel da redução dos juros pelo BC

A redução dos juros, pelo Banco Central, não é só para esquentar a economia brasileira. Cumprimento o BC porque a intenção maior é equilibrar a taxa interna com a internacional. Hoje em dia esse diferencial é responsável pela maior arbitragem que existe no mundo.

Iremos fazer isso sem comprometer a luta contra a inflação.

O fantasmas das falsas crises políticas

Existe uma forma quase fantasmagórica de cobrir a política. A imprensa vem falando em crise com a base aliada. Não existe crise. Os conflitos – que sempre existirão – tem a ver com os processos pelos quais exercemos o nosso presidencialismo. Tem que ser de coalizão, mas não deixa de ser presidencialismo.

No caso do Brasil, alcançamos grande maturidade nas relações executivo-legislativo e executivo-judiciário. Podemos nos vangloriar de ter certa estabilidade.

Por aqui seria inconcebível uma relação Executivo-Congresso do tipo democrata-republicano As diferentes opiniões que se estruturam dentro da sociedade brasileira não permitiriam isso.

Temos tradição de sermos obrigados, como políticos que somos, a olhar o interesse de todos: o que nos EUA às vezes me parece que não é o caso.

Ninguém aqui pode durante muito tempo só defender seus interesses específicos sem que haja reação da parte da sociedade.

É sempre bom que tanto Executivo quanto Legislativo e Judiciários saibam que essa é exigência de postura de todos: presidentes, ministros, deputados, senadores e juízes. Esse é aspecto importante da nossa democracia e explica também porque, mesmo tendo eleições bastante atritadas, em alguns casos até duras, logo depois da eleiçao há como uma pacificação geral

Ai do presidente que não falar em nome de todos os brasileiros e brasileiras. Em outros países do mundo não se vê isso

Ao lado da coalisão há questão do interesse de todos, balanço do presidencialismo que fala em nome de todos e coalisão que são interesses partidários. É normal que se reivindique e se debata. É intrínseco a esse processo.

E partidos não podem arcar com ônus de inviabilizar acordos: são partes do acordo. Quando votam contra governo, são pontos muito específicos. Não tem desvio, conduta inadequada: que eles façam assim é da regra do jogo, que façamos de outro é da regra do jogo.

Educação é chave para o Brasil do século XXI

Por Zé Diceu

 

Se levantarmos todas as iniciativas do governo Dilma Rousseff, vamos ver que nossa presidenta está as tomando medidas para superar os dois principais gargalos de nossa economia – educação e inovação – para enfrentar não apenas a conjuntura atual, mas o século XXI.

Dentre as iniciativas mais recentes, está a informação, dada pela própria presidenta, que o governo vai investir R$ 1,4 bi no programa Mais Educação neste ano. O objetivo é estender a educação em tempo integral a 15 mil novas escolas da rede pública, inclusive na zona rural – elas se somarão às cerca de 15 mil escolas que já oferecem atividades integrais para 2,8 milhões de alunos.

Ao lado da banda larga, o piso dos professores e as mudanças introduzidas pelo ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, no ensino fundamental, o Brasil vem enfrentando, passo a passo, os desafios colocados pelo século XXI.

Investimentos e conquistas

O trabalho tem sido árduo e permanente. O Ministério da Educação praticamente quadruplicou seu orçamento em 7 anos, com R$ 80 bi disponíveis à pasta neste ano (leia neste blog a entrevista com o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, na qual faz um balanço detalhado da pasta ao final do ano passado). Ainda que nesta área os resultados tendam a surgir no longo prazo, alguns indicadores já demonstram a reação do setor desde o início dos governos Lula e Dilma. No PISA (sigla em inglês do Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o exame internacional de comparação entre países no campo da educação, o Brasil teve média de 368 no ano 2000 e, nove anos depois, subiu para 401. É um feito que mereceu elogios de organismos internacionais como a Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Banco Mundial.

Outro dado que prova a evolução do país na educação é a queda na taxa de analfabetismo: em 2003 era 11,6% e, em 2010, diminuímos para 9,6%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE). E, ainda que o índice possa parecer alto, ele reflete o analfabetismo residual das populações mais velhas. Entre os jovens, as taxas são mínimas.

 

Lei do piso para o professor

 

Vale mencionar, também, mais um fator de importância ímpar para alterar o quadro de subdesenvolvimento em que vivemos: a valorização da carreira do professor da rede pública, com a criação do piso nacional salarial, aprovado pela Lei 11.738/2008. Hoje nenhum professor deverá receber menos de R$ 1.451 por mês por uma jornada de 40 horas.

Na outra ponta, temos um aumento de 110% do número de estudantes de ensino superior entre 2001 e 2010, batendo em 6,37 milhões de alunos. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), por sua vez, colhe outros frutos. Antes da reformulação do exame, todas as universidades federais, juntas, ofereciam 100 mil vagas por meio deste exame. A partir de sua adoção generalizada, hoje, já falamos no acesso de alunos a cerca de 300 mil vagas nas universidades deste país.

 

Foi criado também, em 2005, o Sistema de Universidade Aberta do Brasil (UAB), que hoje tem mais de 600 polos de operação, e o Programa Universidade para Todos (ProUNI), que fechou, em janeiro, mais de um milhão de bolsas a universidades privadas concedidas a alunos em todo o país. Houve também o Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES), concedido a juros reais negativos.

Ensino técnico e profissionalizante

 

Aos nossos jovens também está sendo dada a opção de uma educação profissionalizante. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), nesse sentido, foi uma iniciativa fundamental. Lançado no ano passado, o programa visa expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) e oferecerá 8 milhões de vagas a brasileiros até o fim de 2015.

 

Este balanço poderia continuar indefinidamente. Mas o que importa dizer aqui é que a educação pública, universal e de qualidade, nos governos Lula e Dilma, vem deixando de ser meta para se tornar, a cada dia, mais palpável.

Para Haddad, PSDB é bola de ferro que prende país pelos pés

Por Carta Maior

 

Para Haddad, PSDB é bola de ferro que prende país pelos pés
Em entrevista exclusiva à Carta Maior, Fernando Haddad, pré-candidato petista à prefeitura de São Paulo não subestima o trabalho que terá para tentar romper a hegemonia do PSDB na capital paulista. “São Paulo tem um pensamento conservador muito consolidado (…). Se optar pela renovação, no entanto, irradiará rapidamente essa tendência para o país. O Brasil poderia mais, não fosse a âncora conservadora do PSDB de São Paulo. Tem uma bola de ferro no nosso pé que ainda segura muito o país”.

Maria Inês Nassif

São Paulo – Estreante nas lides eleitorais, o pré-candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT, Fernando Haddad, entra na disputa com as vantagens e desvantagens de ser um nome novo. A vantagem óbvia é não apenas o apoio, mas o comprometimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com sua candidatura – Lula articulou intensamente para que o PT paulistano o assumisse como candidato e será fundamental no processo eleitoral. Isso, o ex-ministro reconhece, é o mais importante. “Lula é (…) uma personalidade que tem a força e a frequência de um cometa, aparece a cada 70 anos”.

Haddad tem também o apoio da presidenta Dilma Rousseff, e muito menos a perder do que o possível candidato do PSDB à prefeitura, José Serra. “A perda dessa eleição, no caso do nosso adversário, seria uma derrota dura”, afirmou Haddad, em entrevista exclusiva à Carta Maior.

As desvantagens de sua candidatura são óbvias: um nome desconhecido, para ser apresentado ao eleitorado da maior metrópole da América Latina, precisa contar com os meios de comunicação de massa – e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) subtraiu essa oportunidade do PT, ao punir o partido com a proibição de veicular o horário de propaganda partidária. O PT foi condenado por usar o programa partidário para propaganda eleitoral no ano passado. Os demais partidos terão horário no primeiro semestre; Haddad ficará de fora até o início oficial do horário de propaganda eleitoral gratuita, que começa apenas em agosto.

A outra dificuldade também é a amarração de apoios à sua candidatura. Haddad garante que o único interesse do ex-presidente Lula no apoio à coligação com o PSD foi a filiação de Henrique Meirelles. “Se o Meirelles tivesse ido para o PMDB, o Lula iria atrás”, afirmou. “A hipótese de uma chapa com dois ministros de seu governo o agradava”. Na avaliação do candidato, mais importante do que o apoio do PSD é manter o PT unido em torno de sua candidatura e fechar com os tradicionais aliados petistas – o PSB, o PDT e o PCdoB. A pesquisa eleitoral feita pelo Datafolha, divulgada no início do mês, que o colocou como lanterninha das pesquisas, dificultou as coisas. “As pesquisas foram mais importantes no jogo de barganhas do que propriamente no ânimo das pessoas envolvidas com a minha candidatura”, afirmou. “Aumentou o preço?”, pergunta a repórter. “Não é isso”, responde Haddad, rapidamente. Apenas os partidos postergaram as conversas, deixaram o acordo para depois, diz ele. “Mas nem sempre os apoios levam à vitória”, relativiza.

O pré-candidato petista não subestima o trabalho que terá para tentar romper a hegemonia do PSDB na capital paulista. “São Paulo tem um pensamento conservador muito consolidado (…) que sempre dá peso muito forte para qualquer plataforma do establishment”, analisa. Se optar pela renovação, no entanto, irradiará rapidamente essa tendência para o país. O Brasil poderia mais, não fosse a âncora conservadora do PSDB de São Paulo. “Tem uma bola de ferro no nosso pé que ainda segura muito o país”, concluiu.

Abaixo, a íntegra da entrevista do ex-ministro Fernando Haddad à Carta Maior:

CARTA MAIOR: O PT assimilou sua candidatura?

FERNANDO HADDAD: Acredito que sim. O processo foi muito bem conduzido e elogiado internamente. É curioso o argumento de que as prévias no PT não ocorreram por pressão. No PT, sempre teve pressão e sempre teve prévias. O Lula já perdeu prévias dentro do PT apoiando um candidato, já ganhou, ele próprio já enfrentou prévias. Isso é da cultura do partido. Óbvio que todo mundo sabe que isso tem consequências, mas ninguém abdica de disputar prévias quando entende ser o caso. A verdade é que, no final do processo, nós contávamos com o apoio da maioria dos militantes. Colhemos mais de 20 mil assinaturas para inscrição, quando eram necessária apenas 3 mil. Nós tínhamos o apoio de 7 dos 11 vereadores. O processo estava muito avançado.

CARTA MAIOR: O maior desconforto foi o namoro com o prefeito Gilberto Kassab?

HADDAD: Não chegou a ser namoro porque sequer houve uma aproximação formal. O que houve foram duas ou três conversas com dirigentes do PSD sobre uma remota possibilidade de o partido me apoiar – o que ocorreria se, e somente se, o [José] Serra [PSDB] não saísse e o PSDB se recusasse a apoiar o Afif, que era um cenário pouco provável. Eu sempre disse, desde que o assunto ganhou os jornais, que nós éramos a terceira prioridade do prefeito, que antes vinham o Serra e o Afif, e que a nossa prioridade é outra, são os partidos da base aliada do governo Dilma. Sempre ficou claro que ele [Kassab] iria caminhar para um lado e nós iríamos caminhar por outro.

CARTA MAIOR: O PT valorizava essa possibilidade, numa estratégia de romper a hegemonia do PSDB junto à classe média conservadora paulistana?

HADDAD: O interesse no PSD, ao meu ver, tem muito mais a ver com a filiação do [Henrique] Meirelles [ex-presidente do Banco Central], que foi ministro do governo Lula por oito anos. O presidente [ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva] considerou que essa seria uma chapa interessante, complementar. Desde a vitória de 2002, quando compôs a chapa com José de Alencar [empresário e então filiado ao PL], isso sempre contou nas reflexões de Lula sobre a composição de chapa. Ele entendia que o Meirelles tinha um perfil muito interessante. Se Meirelles tivesse se filiado ao PMDB, Lula também iria atrás de uma composição. Nas conversas que tive com o presidente, a hipótese de ter uma chapa com dois ministros de seu governo o agradava.

CARTA MAIOR: O Lula, então, não forçou a barra para uma aliança com o PSD?

HADDAD: Não, de forma alguma. Ele até recomendou cautela, com medo de que isso não fosse compreendido.

CARTA MAIOR: E o apoio dos pré-candidatos do PT que desistiram da prévia?

HADDAD: Acho que é muito importante o partido estar coeso em torno da campanha e nós todos em campo – o presidente Lula, Marta e todos do partido. Mas eu não reduziria a questão a isso. Há um conjunto de problemas a serem enfrentados. Nós fomos muito prejudicados pela questão da TV e praticamente não teremos inserção no primeiro semestre. Todos os outros partidos terão. Isso traz um prejuízo enorme para um estreante, que nunca disputou uma eleição, nunca teve programa de televisão. Nós temos que lidar com isso.

CARTA MAIOR: Como?

HADDAD: Nós estamos formulando programa de governo e circulando os bairros para colher subsídios. São dois dias de estudo fora do escritório, nos bairros, e três dias de estudo interno, em que eu recebo técnicos e acadêmicos para colher dados para a elaboração do programa – que, para a minha surpresa está indo bem demais. Acho que nós vamos chegar num diagnóstico e numa formulação para apresentar à cidade que seguramente até maio.

CARTA MAIOR: Você tem um diagnóstico preliminar da cidade?

HADDAD: Acho que os erros cometidos já estão diagnosticados. Por exemplo, no caso dos transportes, é evidente que não houve uma aceleração das obras do Metrô, apesar do aumento de investimento. Houve aumento de custos: o dinheiro adicional só serviu para pagar mais a mesma coisa, os mesmos dois quilômetros todo ano. Todo o sistema de transporte foi relegado a segundo plano: o Metrô está muito aquém do que o de qualquer outra metrópole, houve o abandono do sistema de ônibus e não se tem a compreensão de que São Paulo precisa de um sistema multimodal. E falta parceria com o governo federal. A adesão ao PAC Mobilidade traria muitos recursos para São Paulo, mas se dinheiro não chegou, foi por falta de interesse local.

CARTA MAIOR: A moradia de baixa renda hoje é um problema?

HADDAD: É um grande problema. São Paulo teve o pior momento nesse quesito. Nunca se produziu tão poucas moradias populares na cidade de São Paulo. Qualquer gestão, de direita ou de esquerda, não importa, produziu mais moradias do que as construídas nos últimos sete anos. Hoje a estimativa é de que 20 mil famílias estejam recebendo Bolsa Aluguel, mas sem perspectiva de casa própria, e logo deixarão de receber esses recursos porque existe um limite a partir do qual, por lei, a cidade não pode continuar pagando. Não há ofertas de moradias populares em São Paulo e a remoção de famílias de moradias precárias, em áreas de manancial e áreas de risco, deveriam ter sido combinadaa com um programa de construção de moradias, como o Minha Casa, Minha Vida. Isso não aconteceu.

CARTA MAIOR: Quais são suas vantagens em relação ao Serra?

HADDAD: Serra não fez uma reflexão sequer sobre a cidade quando disputou a prefeitura de São Paulo. Até porque estava de passagem, ele não se debruçou sobre as questões urbanas. Aliás, ele não tem reflexão sobre as questões urbanas. Como candidato que disputou cinco das últimas seis eleições, acho muito provável que ele tenha pretensões, se eleito, de disputar 2014. Estará de novo de passagem. E a cidade fica sempre como um degrau, um apoio para outras pretensões. São Paulo não suporta mais isso.

CARTA MAIOR: A questão é estar de passagem ou capacidade de pensar a longo prazo?

HADDAD: Na verdade, mesmo quando nós levamos em consideração a experiência do Serra no Ministério do Planejamento, nota-se que não se trata de uma pessoa que lida com facilidade com o planejamento. Ele não soube elaborar um plano plurianual. Isso era tarefa dele e quatro anos depois nós tivemos uma restrição de energia elétrica que foi a maior da história do país. Não houve planejamento de longo prazo lá e não haverá cá. Sem planejamento não se muda nada que é estrutural; muda-se a conjuntura, mas não a estrutura das coisas. É só comparar o que foi feito no setor elétrico por ele e pela Dilma [como ministra de Lula].

No caso do Plano de Desenvolvimento da Educação, que está até hoje em vigor, fizemos planejamento até 2021. Quando assumi o MEC, no segundo mandato do presidente Lula, lançamos um plano com metas delineadas até 2021 e dificilmente alguém vai revê-lo. Na cidade, não se sabe o que vai acontecer, não sabe sequer o que está acontecendo hoje [dia 5, segunda, início da greve de caminhões que terminou dia 8, quinta]. Durante a gestão de Marta Suplicy, eu trabalhava com [João] Sayad [na secretaria de Finanças]. Começamos a desenhar o que seria São Paulo dali algumas décadas: o sistema de transportes, a questão dos resíduos sólidos, iluminação pública, educação com os CEUS, tudo isso foi pensado estruturalmente, mas muitas dessas coisas foram abortadas a partir de 2004.

CARTA MAIOR: Como você interpretou a pesquisa Datafolha do início do mês?

HADDAD: Apesar de cientista político e acompanhar até com interesse as pesquisas, não consigo me sensibilizar com elas tanto tempo antes da eleição, sobretudo porque é a minha primeira eleição. Nessas alturas, elas têm muito mais impacto no jogo de barganha (o aliado pergunta, “o que garante que você vai estar bem daqui a seis meses?”) do que propriamente no ânimo das pessoas que estão envolvidas na minha candidatura.

CARTA MAIOR: As pressões aumentaram?

HADDAD: Não há pressão. Apenas as pesquisas postergaram alguns acordos.

CARTA MAIOR: O preço aumentou?

HADDAD: Não, não é isso. Na verdade, as pesquisas interditam as negociações por mais tempo. É um jogo de adiar, deixar as conversas para depois. Mas, enfim, o PT já concorreu sozinho, já concorreu coligado, já concorreu com chapa pura, já concorreu com um amplo espectro de apoio. E nem sempre o apoio leva à vitória. Em 2002, o presidente Lula não tinha tantos aliados e ganhou as eleições. Compôs depois com outros partidos, porque a democracia tem três turnos: o primeiro, o segundo e o governo. Em algum momento, ou nas eleições ou depois da posse, vai ser preciso fazer um acordo.

CARTA MAIOR: É uma tarefa possível quebrar a hegemonia do PSDB em São Paulo?

HADDAD: Aqui em São Paulo, essa é uma tarefa difícil em qualquer hipótese. Há aqui um pensamento conservador muito consolidado, historicamente saturado, que dá sempre um peso muito forte para qualquer plataforma do establishment. O candidato do establishment sempre vai ter muito apoio. É difícil romper o conjunto de forças midiáticas e econômicas que se une em torno do status quo.

CARTA MAIOR: Qualquer estratégia passaria pela sensibilização de parcela desse eleitorado?

HADDAD: Sim, e se isso acontecer abre-se caminho para a renovação. A conservação e a inovação sempre estão em jogo no Brasil. O governo do presidente Lula foi caracterizado pela inovação – teve erros e acertos, mas sempre inovou, em todas as situações: da política externa à política educacional, da moradia popular à reforma agrária, da política de crédito ao acúmulo de reservas cambiais, enfim, sempre fez coisas diferentes dos seus antecessores. Em São Paulo, o ritmo é sempre o da conservação. A metáfora dos dois quilômetros de metrô por ano dá a medida do que estou dizendo: serão necessários 65 anos para chegar ao que é hoje o metrô do México – mais de seis décadas para que cheguemos ao caos do México – no ritmo atual do governo do Estado. E não há uma indignação em relação a isso. As pessoas vão parando, demoram duas a três horas por dia se deslocando e as coisas vão sendo empurradas, sem que se discuta alternativas.

CARTA MAIOR: A quebra da hegemonia do PSDB em São Paulo mudaria muito o perfil político do Brasil?

HADDAD: Acho que mudaria. Primeiro, porque a alternância no poder é sempre boa – e nós não temos tido alternância. No Estado, o governo está com o PSDB há 20 anos. Isso não oxigena a máquina. Não é possível se reinventar o tempo todo. Outra coisa é que houve um sopro de renovação no Brasil que varreu boa parte do Nordeste, pensando em Jaques Wagner, Marcelo Déda, Eduardo Campos, Cid Gomes, para citar alguns; chegou ao Rio também: na minha opinião, Sérgio Cabral é uma boa novidade. É uma geração com ideias novas, com vontade de colocar o Brasil numa outra rota, de pensar o país grande. Aqui, o peso de uma renovação seria ainda maior. Se São Paulo irradiasse o novo, isso teria um efeito muito grande sobre o país. Hoje, São Paulo está estagnado. Se você pegar qualquer livro ou artigo sobre desenvolvimento nacional, o Brasil vai ser referência, mas se o livro for sobre metrópoles, São Paulo não é citado, a não ser pelos problemas que enfrenta.

Na gestão da Marta, as pessoas vinham conhecer o bilhete único, os CEUs, os corredores de ônibus. Estava começando um processo de rejuvenescimento da cidade, como Nova York, Santiago e Bogotá viveram, como Curitiba ao seu tempo, e como cidades na Ásia, sobretudo na Índia e na China, estão vivendo. Hoje, São Paulo tem pouco a ensinar, porque foram oito anos de muita calmaria, muito dinheiro arrecadado e pouco impacto na qualidade de vida da população. Da porta para dentro de casa o paulistano reconhece que sua vida melhorou, em função do que o governo Lula propiciou, mas da porta de casa para fora, onde o cara depende do poder local a vida ficou mais dura.

CARTA MAIOR: Qual a mensagem que você teria para todos os paulistanos? O que sensibilizaria a cidade como um todo? A questão da mobilidade?

HADDAD: A questão da mobilidade sem dúvida, que é onde o poder público está devendo demais. Há estagnação de investimentos. O ritmo de obra não vai dar conta. E a tendência, se o Brasil continuar crescendo, é piorar, porque as pessoas vão cada vez mais migrar para o transporte individual. Se o transporte público não responder, o cidadão vai dar a resposta, comprando um carro, uma moto, e resolvendo individualmente um problema que teria de ser resolvido de forma coordenada. É uma questão de vaso comunicante: melhorou a renda, comprou um carro. E vai tudo parando. O que está acontecendo do ponto de vista econômico é isso: as pessoas estão ganhando mais e saindo do transporte público por falta de anternativa. Isso vai continuar acontecendo se nada for feito e pouco está sendo feito na direção correta.

CARTA MAIOR: Este é o centro de seu programa?

HADDAD: Não. Considero que uma visão estratégica é fundamental. São Paulo não tem uma visão de longo prazo sobre si mesma. Nós temos um problema gravíssimo de centralização de serviços e oportunidades econômicas que não foi enfrentado até hoje. A cidade é uma megalópole com 31 subprefeituras esvaziadas do ponto de vista de poder resolutivo. A oferta de serviços públicos não é uniforme. Existe um problema de logística na cidade que não envolve só transporte, mas o investimento que está sendo feito. Não há uma política de descentralização e isso agrava o problema.

CARTA MAIOR: Que papel que o Lula vai ter nessa eleição? Você seria uma candidatura viável sem o Lula?

HADDAD: Essa pergunta é difícil de responder quando dirigida ao PT, imagina dirigida a mim. O Lula é um político único. Desde os meus 15 anos de idade, tudo o que vejo acontecer na política nacional está relacionado a ele: se vai ter eleição direta ou não, se vai ter constituinte exclusiva ou não, se vai ter reeleição ou não. A política toda gira em torno dele desde final dos anos 70 vai continuar girando. É a liderança em torno da qual orbitam os demais interesses. Falar do Lula é falar de uma personalidade que tem a força e a frequência de um cometa, é uma vez a cada 70 anos. Quem me convidou foi ele. Ele me sondou numa conversa em que eu disse que pretendia deixar o governo federal e voltar para São Paulo. “Olha, se você precisa renovar, vamos enfrentar São Paulo.” Lula me perguntou se eu queria – e respondi seria uma experiência extraordinária. Eu me encantei com a ideia de fazer uma gestão em São Paulo com a visão de longo prazo que São Paulo não tem, apesar de sua dimensão.

CARTA MAIOR: Você acha que os dois governos Lula serviram para quebrar aqui em São Paulo essa resistência ao prório Lula?

HADDAD: Nós temos que admitir: depois de oito anos de Lula a presidenta Dilma perdeu a eleição na cidade, mas ampliou em relação à eleição de 2008, em que a Marta teve 36%. Antes já havia ocorrido um refluxo. Nós ganhamos a eleição de 2000 na capital, ganhamos em 2002 e perdemos em 2004. Fizemos 39,5% em 2008, e em 2010, 46,5%. Se não fossem alguns episódios, a Dilma teria feito mais de 50%.

CARTA MAIOR: Você acha que existe uma medida preventiva contra uma onda conservadora? O episódio do kit gay foi um ensaio, não foi?

HADDAD: Esse é o típico não assunto: a liberação de uma emenda ao orçamento e a entrega de um material que foi considerado inadequado e não foi distribuído. Resume-se a isso o episódio. Escreveu-se mais do que isso do que o aumento da qualidade da educação no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), ou a expansão da educação profissional, ou a expansão da educação superior. Está tudo melhorando na educação, mas se passa meses discutindo um não evento. É incrível a capacidade da mídia de pautar não problemas, não assuntos, não eventos. A população não é informada do que é estrutural e realmente relevante.

CARTA MAIOR: É factível para o PSDB assumir um discurso agressivo, udenista, nessas eleições? O livro “Privataria Tucana” não pode inibir esse tipo de discurso?

HADDAD: O quanto a pessoa está disposta a perder o verniz é proporcional ao desespero de perder a eleição. E digamos que perder essa eleição, no caso do nosso adversário, representaria uma derrota dura. Eu não me surpreenderia se forças obscurantistas fossem mobilizadas, se o quadro lhe retirar o favoritismo que todos dizem que ele (Serra) tem. Daí o desespero bate. Nem todo mundo tem elegância ao participar do jogo eleitoral.

CARTA MAIOR: E você vai ser elegante?

HADDAD: Vamos pegar o caso do presidente Lula. Ele foi atacado várias vezes, teve material para pagar na mesma moeda e sempre abdicou disso. São conhecidas as histórias em que o presidente Lula foi sondado sobre se usaria determinada informação, e ele disse que não. Algumas são públicas. Por exemplo, quando se imaginava que o PT pudesse usar o suposto caso do filho do ex-presidente Fernando Henrique e o presidente Lula respondeu para o seu interlocutor que se dependesse disso ele preferia não ser presidente da República. E sofreu esse tipo de ataque em 1989, de envolvimento de assuntos de sua família na campanha, e nunca revidou. Existem perfis de candidatos. A presidenta Dilma também preferiu ir para o debate político.

CARTA MAIOR: Você acha que ganhar essa eleição é importante para a quebra da hegemonia do PSDB no Estado?

HADDAD: Eu entendo que o Brasil não vai voltar a ser o que era nunca mais depois dos oito anos do presidente Lula com a continuidade. A cada eleição se consolida um patamar de exigência diferenciado. Hoje o Brasil é um país mais crítico, mais democrático, mais reflexivo, mais exigente. O Nordeste nunca mais vai ser o mesmo, com a superação de uma realidade de poder daquelas oligarquias atrasadíssimas. Eu não tenho dúvida de que o Brasil poderia mais, se não fosse essa âncora conservadora [em São Paulo]. Tem uma bola de ferro no nosso pé que ainda segura muito o país. E nós já deveríamos ter perdido o medo de avançar, porque depois que você avança e vê que é bom, deveria querer mais, mas ainda tem gente indisposta com o progresso, com o desenvolvimento humano.

Está mais do que provado que quando há combate de desigualdade todo mundo ganha. A visão de que está tudo ruim porque agora todo mundo anda de avião, e os aeroportos estão lotados, é errada. O mesmo empresário que reclama dobra o seu lucro no seu negócio, porque as pessoas compram mais. E tem um despertar para várias coisas. As pessoas vão ter de se habituar com isso. O Brasil ultrapassou a China em taxas de escolaridade. A escolaridade média é similar aqui e na China, mas na velocidade de aumento foi diferente. Nos últimos 10 anos, o Brasil passou de 3,5 milhões de universitários para 6,5 milhões. E pessoas educadas são diferenciadas, não apenas porque ganham mais, mas porque se colocam de forma diferente em relação à sociedade.

Temos que nos habituar a isso. Hoje muitas pessoas até fazem trabalho doméstico, mas esse tipo de atividade é usado como uma escala para os que estão estudando, estão fazendo um curso técnico, uma faculdade, e dali a pouco já estarão em outra atividade. A transformação social é muito visível. Mudou o perfil do trabalhador. O problema não é lavar pratos, mas passar a vida inteira lavando pratos. Não pode um indivíduo pagar por toda a espécie

‘Negras de merda, voltem para Cuba’. Atletas sofrem racismo em Santa Catarina

Chateada com o episódio, Ramirez usou o Facebook para desabafar: “É triste em pleno século 21 termos atos de racismo. Um povo ignorante é triste. Não tem respeito pelo ser humano. Isso que me incomoda. Pode ser um país rico, mas cadê o ser humano?”

racismo volei ramirez cubaNão foi apenas o oposto Wallace, do Sada Cruzeiro, que foi vítima de racismo por parte dos torcedores adversários. Na rodada do fim de semana passado, a última da fase classificatória da Superliga feminina de vôlei, as cubanas Herrera e Ramirez viveram situações constrangedoras durante o duelo entre Usiminas/Minas e Rio do Sul, em Santa Catarina.

Chateada com o episódio, Ramirez usou o Facebook para desabafar. “Estou muito triste. Me sinto mal. Um torcedor do Rio do Sul chegou perto da quadra onde estavam Herrera e eu para gritar na nossa cara ‘negras de merda, voltem para Cuba. É triste em pleno século 21 termos atos de racismo. Um povo ignorante é triste. Não tem respeito pelo ser humano. Isso que me incomoda. Pode ser um país rico, mas cadê o ser humano?”.

De imediato, a caribenha recebeu o carinho dos fãs brasileiros, indignados com o que se passou no interior do Sul do País. “Gente, obrigada pelo apoio em um momento como esse. Estou concordando totalmente com todos os comentários de vocês. Cada um é muito importante para mim. Obrigada por tanto carinho e apoio. Amo todos vocês de coração”, postou ela antes de ir dormir

ONU pede mudanças para evitar escassez de água no mundo

Por OpenSante

 

A demanda pelos suprimentos de água no mundo é tão intensa que será necessária uma mudança radical na forma como ela é usada para evitar a escassez, diz um estudo elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado hoje (12). A 4ª edição do Relatório de Desenvolvimento Mundial da Água, intitulado Gerenciando a Água sob Incerteza e Risco, foi lançado durante o 6º Fórum Mundial da Água, em Marselha, na França.
De acordo com a pesquisa, aumentou a demanda por água para irrigação de cultivos de alimentos, para produção de energia elétrica e para fins sanitários. O documento ressalta ainda que as mudanças climáticas estão reduzindo os suprimentos ao alterar os padrões de chuvas, provocando secas mais prolongadas e o derretimento de geleiras.
O relatório aponta ainda que a Ásia tem cerca de 60% da população mundial, mas conta com apenas um terço da água potável da Terra. O Brasil produz aproximadamente 12% da água doce superficial do planeta e, segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), o país dispõe de 18% de toda água doce superficial da Terra.
No relatório, são descritas as principais mudanças, incertezas e ameaças que ocorrem no mundo e suas ligações com os recursos hídricos. A publicação também indica as tendências relacionadas ao abastecimento de água, ao uso, à gestão e aos financiamentos.
De acordo com Programa Mundial para o Desenvolvimento da Água, vinculado às Nações Unidas, o objetivo do estudo é buscar alternativas para que todos se envolvam na busca pela melhoria da qualidade e aceitação das decisões sobre o tema.
Com informações da Agência Brasil

Bispo defende que alunos e mestres da PUC-SP estejam alinhados à Igreja

Por Sul 21

 

O Bispo Emérito de Guarulhos, Dom Luiz Bergonzini, defendeu em seu blog que alunos e professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) não podem ter ideias contrárias à ideologia disseminada pela Igreja. Em texto publicado no dia 3 de março, intitulado “Graças a Deus, a PUC não é uma ‘progressista universidade comunista’”, Bergonzini disse que professores da PUC não devem disseminar ideias contrárias à moral cristã nem fora da instituição.

“Se a PUC é da Igreja Católica, deve seguir o Evangelho e a Moral Cristã. Não pode ter em seu corpo docente professores contrariando os ensinamentos da Igreja Católica, dentro ou fora da sala de aula”, escreveu Bergonzini. O bispo disse ainda que, como indica o Pontifícia do nome da PUC, a universidade deve se reger pela Constituição Apostólica, do Vaticano. Ele relatou que no contrato de trabalho que os professores assinam há cláusulas estabelecendo, entre outras coisas, a “fidelidade à mensagem cristã”.

Para Bergonzini, o defesa da legalização do aborto, da eutanásia e das drogas, as ideias comunistas e o homossexualismo não são comportamentos compatíveis de um profissional da PUC: “Os professores abortistas, defensores da eutanásia, da liberação da maconha, da ideologia homossexual ou comunistas podem procurar escolas que defendam essas ideias, por exemplo UnB, para lecionar nelas. Não podem lecionar numa escola católica, que é totalmente contrária a esses posicionamentos”.

Sobre os alunos, o sacerdote relatou que, recentemente, houve manifestação na PUC em favor da legalização da maconha. Ele classificou a manifestação como “abjeta”. Ele afirmou que no ato da matrícula os alunos se comprometem a obedecer o regimento interno. Como a PUC obedece a princípios católicos, logo os alunos também estariam se comprometendo com estes princípios, de acordo com o raciocínio do bispo.

Assim como aos professores, aos alunos que tiverem ideias contrárias, a porta da rua é serventia da casa, defende Bergonzini: “Eles não estão obrigados a cursar a PUC. Há inúmeras faculdades por aí. Se forem adeptos do aborto, da eutanásia, da ideologia homossexual, da liberação das drogas, do comunismo, podem procurar faculdades com essas ideias para estudar”, escreveu.

Dom Luiz Bergonzini é o mesmo que durante as eleições presidenciais, em 2010, revelou ter orientado os padres de Guarulhos a pregarem votos contra a então candidata Dilma Rousseff, que seria defensora do aborto, e a outros candidatos que fossem a favor da legalização deste procedimento.